domingo, fevereiro 27

OSCAR 2011 _ APOSTAS DO EXPINHO

Melhor filme

Cisne Negro
O Vencedor
A Origem
O Discurso do Rei
A Rede Social
Minhas Mães e meu Pai
Toy Story 3
127 Horas
Bravura Indômita
Inverno da Alma

Melhor diretor

Darren Aronovsky – Cisne Negro
David Fincher – A Rede Social
Tom Hooper – O Discurso do Rei
David O. Russell – O Vencedor
Joel e Ethan Coen – Bravura Indômita

Melhor ator

Jesse Eisenberg – A Rede Social
Colin Firth – O Discurso do Rei
James Franco – 127 Horas
Jeff Bridges – Bravura Indômita
Javier Bardem – Biutiful

Melhor atriz

Nicole Kidman – Reencontrando a Felicidade
Jennifer Lawrence – Inverno da Alma
Natalie Portman – Cisne Negro
Michelle Williams – Blue Valentine
Annette Bening – Minhas Mães e meu Pai

Melhor ator coadjuvante

Christian Bale – O Vencedor
Jeremy Renner – Atração Perigosa
Geoffrey Rush – O Discurso do Rei
John Hawkes – Inverno da Alma
Mark Ruffalo – Minhas Mães e meu Pai

Melhor atriz coadjuvante

Amy Adams – O Vencedor
Helena Bonham Carter – O Discurso do Rei
Jacki Weaver – Animal Kingdom
Melissa Leo – O Vencedor
Hailee Steinfeld – Bravura Indômita

Melhor longa animado

Como Treinar o Seu Dragão
O Mágico
Toy Story 3

Melhor filme em lingua estrangeira

Biutiful
Fora-da-Lei
Dente Canino
Incendies
Em um Mundo Melhor

Melhor direção de arte

Alice no País das Maravilhas
Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte I
A Origem
O Discurso do Rei
Bravura Indômita

Melhor fotografia

Cisne Negro
A Origem
O Discurso do Rei
A Rede Social
Bravura Indômita

Melhor figurino

Alice no País das Maravilhas
I am Love
O Discurso do Rei
The Tempest
Bravura Indômita

Melhor montagem

Cisne Negro
O Vencedor
O Discurso do Rei
A Rede Social
127 Horas

Melhor documentário

Lixo Extraordinário
Exit Through the Gift Shop
Trabalho Interno
Gasland
Restrepo

Melhor documentário em curta-metragem

Killing in the Name
Poster Girl
Strangers no More
Sun Come Up
The Warriors of Qiugang

Melhor trilha sonora

Alexandre Desplat – O Discurso do Rei
John Powell – Como Treinar o seu Dragão
A.R. Rahman – 127 Horas
Trent Reznor e Atticus Ross – A Rede Social
Hans Zimmer – A Origem

Melhor canção original

“Coming Home” – Country Strong
“I See the Light” – Enrolados
“If I Rise” – 127 Horas
We Belong Together – Toy Story 3

Melhor Maquiagem

O Lobisomem
Caminho da Liberdade
Minha Versão para o Amor

Melhor Curta-metragem de animação

Day & Night
The Gruffalo
Let’s Pollute
The Lost Thing
Madagascar, Carnet de Voyage

Melhor Curta-metragem

The Confession
The Crush
God of Love
Na Wewe
Wish 143

Melhor Edição de som

A Origem
Toy Story 3
Tron – O Legado
Bravura Indômita
Incontrolável

Melhor Mixagem de som

A Origem
Bravura Indômita
O Discurso do Rei
A Rede Social
Salt

Melhor Efeitos especiais

Alice no País das Maravilhas
Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte I
Além da Vida
A Origem
Homem de Ferro 2

Melhor Roteiro adaptado

A Rede Social
127 Horas
Toy Story 3
Bravura Indômita
Inverno da Alma

Melhor Roteiro original

Minhas Mães e meu Pai
A Origem
O Discurso do Rei
O Vencedor
Another Year

terça-feira, março 16

meu nome rubro



estou fazendo teste pro blog de beca desculpem os transtornos

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quinta-feira, janeiro 14

Judia de Mim

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Magda Eisenhardt foi a única mulher na minha vida que tinha sobrenome.
Não vivera o suficiente para ver os terríveis acometimentos de sua etnia, mas sempre fora quase loira estudiosa. Leu de expurgo e diáspora até campos de contração e câmaras de gás. Soube desde cedo do sofrimento de seus mais velhos. Sensível que era, sentiu as feridas escondidas deles. Nunca quis ser uma “praticante”, mas sabia que era uma “existente” .

Viajou para Israel aos 15. Conheceu uma guerra cheia de silêncios assustadores nas esquinas. Menina nova andava como se imortal fosse. Frequentou colégios, pessoas, danceterias e só não foi a inferninhos por culpa dos meninos machistas do intercâmbio. Magda voltou para o Brasil um ano mais velha e eufórica como ficava a cada viagem. Pensou como lhe interessava fazer de sua vida um delicioso roteiro. Decidiu fazer cinema.

Tinha uma reprimida vontade de ser atriz, angústia que perdeu em uma de suas viagens., quando conheceu Mercedes, uma cantora Espanhola que disse ter amaldiçoado todas as atrizes do mundo, tudo por que uma atriz francesa havia roubado o amor de sua vida. Era tanto ódio nos olhos e nas ventas de Mercedes, que Magda não quis arriscar. Na volta desistiu definitivamente de ser atriz e resolveu fazer cinema...

De novo?

Na Austrália conheceu Paul Hogan, o ator que interpretara o famoso caçador de crocodilos, Crocodilo Dundee. Ele pagou uma bebida a ela num pub bem arrumado. Passaram a noite sob as milhares de estrelas do deserto e fizeram amor. Magda nem mesmo gozou. Ficou muito triste por Paul não ter lhe levado para ver um Set de filmagens. Acordou na manhã seguinte e pegou um avião de volta para o Brasil. Decidiu, de uma vez por todas, que faria cinema.

Ingressou na faculdade e foram 2 anos sem viver a vida que sonhara.
Roteiros, muito poucos.
Filmes, muito menos que novos amigos, tão perdidos quanto ela.
Soluços, quase nenhuns.

Do alto de sua cobertura na Barra, gritou para quem quisesse ouvir que queria morar na Argentina. Sua avó teve um piripaque, sua mãe, psiquiatra, fingiu compreender e eu a chamei de ingênua, demasiada humana. Discutimos, como sempre fizemos, saímos sem mútuo convencimento, como sempre acontecia. Sempre gostei muito de Magda, inteligente, sensível, carinhosa, quase loira. Dei um abraço demorado nela, disse que sentiria saudades e sai antes que o Rabino que esperava na sala me acusasse como “Inglorious Gói”.

Amanhã, Magda Eisenhardt estará embarcando para a Argentina e choverá CINEMA.




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terça-feira, janeiro 12

Sem Ela

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Hoje senti tanta falta dela que mal pude mexer os membros inferiores.
Num esforço desmedido levantei e vivi um segundo após o outro.
Cada gota de suor no dia, cada espasmo de consciência, eram travestidos em micro espaços de tempo em que eu balbuciava pela sua presença. Calei minhas súplicas só para tomar um café. Fiz o mais amargo possível, bebi goles mínimos sem franzir testa ou mesmo apertar lábio. Continuei pela tarde até agora, perdidas horas da madrugada, tentando entender como é viver sem ela, re-acostumar à vida solitária. Por três momentos desse dia, tentou a vilã saudade apunhalar-me pelas costas. Descuidei é verdade, caí em tentação.

MOMENTO 1:
Não era dor o que sentia. Vivia nas primeiras horas da manhã uma agonia de não acordar com as pernas finas dela por cima de mim. Corri, peguei seu travesseiro, respirei fundo suas cores, suas lembranças e coloquei por cima de mim. Tragado por um leve sono, avistei-a passeando entre nuvens a me chamar para dar volta em cima de uma enorme tartaruga. Caminhamos lentos, sem precipitar o momento de chegar para cruzar linha vermelha de campeão. Foram muitas as lebres que zombavam de nossa letargia. Ela sorria e me pedia para não ligar...
Não liguei, não me importei, juro... Não me importei...

MOMENTO 2:
Lavei as roupas, os pratos, as sandálias, os pára-choques, as vidraças, as mágoas, parei pra descansar. Levantei pesado móvel, troquei a vida de lugar, achei teu álbum de fotos. Folheei um por um, foto por foto, imagem mais digna de aplauso que a outra. Vestida para festa, completando anos, trajes de banho, sorriso verde esperança, poses amarelas vergonha. recordei cada corte de cabelo, cada pedaço de nossos lugares, de nosso mundo. Terminei de roubar os sentimentos daqueles “frames” e sucumbi dentro de meu cansaço. Sem permitir este zelo por mim levantei de cabeça erguida... Não me importava, não devia, não devia...

MOMENTO 3:
Sentei e apertei forte o botão do controle. Teimou a Tv em não ligar. Teimou você a me gritar, dentro de mim.

“Troca as pilhas, troca as pilhas, teimoso”.

Cala-te tu, mulher controladora. Teimoso sou pelos meus signos e ascendentes que desconheço. Insana é de continuar a meu lado mesmo a tantos kilômetros de distantes. Mulher maluca a gritar de dentro de mim. Mulher minha tão longe que me dá nos nervos, tão doente que me faz enjoar. Não tens direito de me abandonar e mandar viver assim. Cala-te mulher manipuladora e vem me tomar. Vem me ter enquanto gritas, enquanto choro, enquanto podemos fazer. Joguemos nossos corpos fora e vamos nos amar sem nos importar com a prisão que é viver em três dimensões. Uma ova que vou morrer desse desejo. Uma ova que vou permitir que sumas uma vez mais.

Trotei para dentro de mim, peguei minha mulher pelas ancas e fiz amor com ela dentro do banheiro, como se é devido.



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segunda-feira, janeiro 11

Bem ou Mal

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Moisés tinha um grande problema com todas aquelas tribos.
Tantos anos já a caminhar, um destino cada vez menos palpável.
Nenhum estudioso dirá que foi medo de lhe crescer os cornos.
Nenhum entendido, Teólogo ou não, falará da moral de Moisés.

“Não cobiçarás a mulher do próximo”

Felícia foi criada numa redoma. O chão de sua casa era limpíssimo para que ela engatinhasse.
As paredes marcadas com enormes digitais para onde deveria recorrer se tropeçasse.
Cinco empregadinhas, nenhuma delas negra, orgulhavam-se os pais de Felícia.
Talheres de plástico e precisas 180 mastigadas para não se engasgar.
babador, toalha felpuda, água morna e nada de Uísque.
Só sentia dor esta menina, quando tinha de cuidar das coisas de fêmea.
A primeira vez que depilou parou no pronto socorro.

Aos 18 acreditou ter chegado à madureza. Mandou despedir três empregadas e contratou um chofer (Era crescida, escova sozinha os dentes, já podia andar de carro). Conheceu Dínamo.
Dínamo era homem e perdido. Jogado à sorte do mundo. Cambaleando pelas séries da vida, sem nenhuma destreza, sem nem mesmo passaporte. Dínamo era tão vivido que aos 15 seu cabelo já era quase todo branco. Podia ele ter sido o tal chofer de Felícia, procurava um emprego que lhe desse uns tostões para perder na noite, mas quis o destino dos dois que por amantes fossem reconhecidos. Apaixonados romperam, cada um, com seus entraves. Transaram. Gozaram. Largaram as convenções. Foram felizes por breves momentos. Quando os conheci, Dínamo ensinava Felícia que existiam tantas pessoas no mundo que mal se podia calcular. Ao vê-la reticente esbocei leve sorriso.
Foram anos encontrando os dois em festas, momentos pequenos, idas e vindas.
Certo dia, passei na casa de Dínamo para pegar umas revistas que havia encomendado.
Porta do quarto trancada, fiquei na sala a esperar. Aconcheguei em fofo sofá.
Bunda quase caindo, costas no forro, cabeça já doendo pescoço, já doendo nuca, ouvido ouve:

“Nhéééé´”

Porta do quarto abre barulhenta...
Uma perna
Um quadril
Um tronco esguio
Cabelo desgrenhado
Fundas olheiras
Fumo na boca
Felícia

Num segundo Moisés fala a meu ouvido que não cobice a mulher do meu próximo. Eu lhe pergunto noutro segundo, se não posso fazer mesmo que meu próximo seja o Demônio.
Sem nenhuma resposta eu divago que se fosse mesmo um bom varão iria ao quarto, esmurrava Dínamo, jogava Felícia nos ombros e a levava para seus pais em sua casa de vidro.

Não o sou, nem jamais serei.
Peguei minhas revistas e saí de lá apaixonado pela nova Felícia que o Diabo tanto trabalho teve para aliciar.



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domingo, janeiro 10

Alô?!

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Existem histórias de amor e amores que dão boas histórias.
Eu nunca amei num cais, numa poltrona ou num avião
Eu nunca fui amado em pé, falando ou pensando
Boa pedra de mármore é o músculo que bate no meu peito.
Dilapidador estou em forma.
Falar das outras coisas do mundo que não sejam o amor, cansa por demais.
Para o amor basta uma taça de vinho, uma piada qualquer e ágeis movimentos.
Contra o amor pesam as idéias repetitivas, os clichês subaproveitados, os meios...

Toda vez que Patrícia me liga o assunto é esse
Toda vez que ela me procura, esse é o dilema.
Amar ou não amar, trair ou não trair, certa ou errada,o que eu acho e o que “desacho”.
Patrícia gosta de me sugar. Pede que eu construa uma tenda em praça qualquer.
Que possa estar a disposição para seus momentos melancólicos de pouca vida.
Me usa e descarta com a mesma velocidade.
A menos que o assunto seja “Sério”. Numa vez que seu cachorro de 15 anos morreu
Ela me tomou por quase 5 dias.
O que nos une é um desejo pelo discorrer.
O que nos separa é sempre nossa prolixía.

Depois de tanto tempo que nem se calcula, não apreendemos que para saber sobre o amor
é fundamental o uso de expressões precisas, arcos de letras que construam palavras, que construam períodos e que nunca excedam uma lauda, seja essa lauda de pensamento ou verbalização ou escrita. Pecamos por nunca oferecer a nossos tratados, a profilaxia devida. Enfraquecemos nossos discursos com os intermináveis rodeios a nos perder em jardins de Minotauros.

Alô... É Patrícia... Preciso atendê-la...

Que dois estúpidos que somos nós.




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sábado, janeiro 9

Mística

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Existe um mar na parte alta da minha terra que é diferente dos demais. Ele é de areia suja e convida os estrangeiros a se banhar. Todas as Syrins que hoje nadam pelo mundo vieram daqui. Deixaram, no entanto, das marinhas pedras até as cadeiras surradas, um encantamento típico das histórias a elas atribuídas. Essa é uma praia que funciona de dia e de noite. Nela também é registrada a primeira vez que um importante fenômeno natural ocorreu. O Pôr do Sol. Um Farol preto e branco brada, ao próximo de seis da tarde, para que o Sol possa assentar em sua confortável poltrona de nada atômico. Num desses dias, atendeu a seu chamado uma menina com o gosto mais duvidoso de todas as meninas de sua idade e caixa postal. Seria essa a característica a definir Gabriela, não fosse as surpreendentes benesses que lhe oferecia o destino. Gabriela decidiu com cinco anos que não mais teria cabelos. Achava chato ter de pentear aqueles cachos em “Marias Chiquinhas”. Pediu a mãe uma tesoura e os cortou bem rente ao coro cabeludo. Não foi a surpresa de todos quando num pensamento Gabriela criou um longo cabelo incendiador movido a labaredas pujantes de fogo fátuo.

Aos 10 anos, Gabriela já tinha pintado o cabelo por pelo menos 7 vezes. Aproveitara também pra mudar de nome a cada tinta/jeito novo. A cada cor, um elemento diferente, uma nova sugestão do destino, um outro nome, uma outra personalidade. Gabriela, quando já se chamava Mística, pensou uma vez pular de um prédio para ver se nasciam asas, mas achou que seria abusar da sorte. Quando eu a conheci, a cor de seus cabelos era de um roxo clemência e seu nome era Galadriel. Eu olhei para seus olhos e logo estava ao seu lado arrastado pelos vendavais de suas tranças. Ao seu lado tudo era sorriso. De quase tocar nas orelhas. A sorte de Galadriel lutou persistente contra minha alma de mau agouro. Venceu, assim como todos que lutam contra mim.

Foram meses sem reencontrá-la. Na virada do ano corri até as águas de mar mais próxima procurando pelo desenho de sua figura ao longe, mas nada.

Numa noite tão branda que nem os monstros marinhos se atreviam picotar no horizonte, Galadriel me achou perdido no mar de areia suja da parte alta da minha terra. Vestia ela, um cabelo Laranja que cheirava e se movia como aqueles gostosos sucos industriais que vem em sachês. Sabia eu que em sua andança pelos diversos mundos que lhe cabia, havia sido prometida a um Marquês Espanhol. Sem esboçar palavra (Pois covarde, temo a guilhotina) esperei até que ela viesse e me sussurrasse. Galadriel encostou seus lábios quentes no meu ouvido e veio com uma história de que poderia transformar nossas roupas íntimas em trajes de banho e fazer de nossos óculos equipamentos de mergulho. Duvidei como bom cético que sou. Ela então sorriu tênue, pegou pela mão e saiu andando entre as pessoas. Carregou-me por incontáveis metros. Cada passo pela areia suja, a cada ser vivente que deixávamos pra trás, eu era tomado de toda serenidade que era possível emanar do mais absoluto ínfimo ato. Aquelas mãos atadas, a quase se perder. Seus dedos não me apertavam e me guiavam com a sabedoria de uma ninfa.

Galadriel me levou para o lodo oposto a água, me beijou o rosto e disse para jamais duvidar.



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sexta-feira, janeiro 8

Preta Vil

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Violeta eu conheci numa festa de Largo.
Bandeirolas, bebidas quentes que derrubam em dois goles sob olhar de vendedor mofina.
Pretos de todos os tipos. homens de cor como eu, um preto com leite, nojento de misturado. Como daqueles cafés que não acorda ninguém e se você for viajar, não pode tomar pra não passar mal. homens de cor como jaslin, preto tão preto que quando vestia branco era confundido com a morte. Vivia no pelourinho, dado a galinhagens com mulheres brancas mezo rosa, mezo amarelo, cor de laranja lima.

Perdão, tenho tanta raiva de Violeta que desvirtuo do politicamente correto, tanto ódio que minha vontade é blasfemar contra todos os panteões da Grécia até a África. Respiro fundo.

Um amigo meu iria cantar naquela festa. Iria também levar as garotas para trás do palco quando acabasse o show. Iria também me pagar um refrigerante. Um bom amigo, sem dúvidas. No meio do caminho desses planos passou Violeta fumando. Não pude contar nem sete nem oito, a beijei e beijei muito mais. Jamais havia beijado uma fumante. O prazer foi absurdo. Tinha uma mistura perfeita naquilo tudo. O cigarro com o pecado daquela boca que certamente já havia chupado muitos pirulitos. E por mais preta que fosse Violeta, seus lábios eram de uma apatia miserável. Implorando por um pouco de vida. Ofereci-me ao sacrifico, sem arrependimentos imediatos. Aproveitei o refrigerante que meu bom amigo me pagou para presentear Violeta. Mulher dos infernos...

Depois daquela festa fiquei dois dias sem ver Violeta. Numa quarta convidou meu bom amigo para um passeio e visita a amigos clandestinos. Caminhávamos pelos guetos carregando pequenas pistolas nas cinturas e capacetes. Se fôssemos emboscados para nada serviriam aqueles papéis grossos em nossas cabeças, é verdade. Mas a sensação de segurança era mais importante que a mesma. Passamos por Chopinguim, maicoujequison, Falkirk, Camarões e na quinta tenda, Alevino chupando Violeta. Mulher rapina de uma puta.

Depois daquele infortúnio fiquei dois dias sem ver Violeta. Recebi uma ligação perdida numa tarde. A maligna me ligou queria me ver... Jurei pra mim mesmo que assim que aquele corpo preto e lábio apático estivessem na minha frente eu iria beliscar e morder até fazê-la pagar por sua traição. Violeta chegou dois minutos depois que eu vesti um quimono. Entrou, passou por mim, perguntou o que eu tinha preparado pra ela. Mulher Preta Ousada. Peguei no seu ombro direito e a virei, pronto para mostrar o que tinha guardado pra ela. Tirou-me do senso a surpresa de ver Violeta de batom. Ajoelhei-me frente a ela e chorei, chorei compulsivamente...
Ela, do alto de sua arrogância de mulher desembestada saiu sem me dizer uma palavra.

Hoje, Violeta é uma mulher casada com um homem azedo, sarara, tenente da Aeronáutica e morador do Rio de Janeiro. Eu jamais beijei uma mulher que fuma desde então.



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Senhorita Haze

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Cada uma das mulheres que me permitiram um afago provoca agora e adiante uma vontade metamórfica de escrever palavras das mais diferentes possíveis. Cada uma de minhas lembranças, que não são muitas pelo labirinto que é minha memória, cada uma delas, provoca-me a descrever de forma única, assim como a experiência vivenciada. Por mais que as vezes pareça ser tudo uma grande repetição, ou um contínuo devir, ou um eterno retorno, nunca o é exatamente.

 Tízia diz ter me visto numa foto de jornal antigo que seu ex-namorado a mostrara. Apontava ele para um caderno cultural, a tentar marcar um encontro para os dois, mas Tízia parou na minha foto que estava perdida ali. De provável que fora algum jornalista propenso a matérias inusitadas para me dar um espaço em significante folhetim. Agradeço-o aqui já que nunca o fiz. Bem ou mal, lá estava eu. Lá estava Tízia.
Minha primeira lembrança dela, no entanto, é menos notícia e mais alegoria. Caminhava eu pelas ruas da minha terra, despreocupado, do jeito descuidado que nos deixa o pôr do Sol. Trocava as pernas pelo meio fio com veículos assassinos a me raspar o corpo. Algo sopra no meu ouvido (Duende ou fada, depende da entonação e da substância ingerida... Não lembro) viro e numa sacada ao longe estava ela. Linda. Magra como um gafanhoto, nariguda, cabelos escovados, não mais que 17 anos.

Que menina de Nabokov: Mexia e sorria. Procurou-me e aceitou meu cortejar. Permitiu que eu fosse conquistando seus terrenos mais íntimos, provocando cócegas de corpo inteiro. Contou para as amigas próximas sobre o menino mais velho, o mais sem vergonha, o mais libertino de se viver. Era um presente toda aquela vida de pinto que ainda não sabe se apoiar nas patas finas.

Que menina de Kubrick: Decidiu me comer sem os dentes. Me devorou no meu próprio Templo. Vivíamos paralém das proibições, mas também, paralém dos sonhos. Ela quis deixar de me ver na colina. Conseguiu. Quis deixar de me ver por perto. Conseguiu. Arranjou um frangote e foi me deixando. Me mal dizendo como um aliciador dos mais cruéis. Injustiça menina, injustiça...

Que menina de Adrian Lyne: De nada me valia nem certo era aquela marca de Jeremy Irons que ela usou pra me manchar. Cacei-a. Fui ao centro de sua cabeça para reeditar quem eu realmente era. Buli, fustiguei, cavei e me atrevi... Ela chorou, eu chorei em retribuição e nunca mais nos prestamos aos prazeres mais importantes.

Saí de dentro de Tízia com um corpo de Fanta e cara de Tamanduá
Minhas mulheres não me têm por mal...



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Persona

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Eu sempre soube mentir muito bem. Sempre foi um talento. Nato, eu acredito.
Se paro pra pensar em algum fenótipo possível desencadeador, não o encontro.
Contudo, mentir nunca foi minha arma mais eficiente e descobri isso cedo.
Com 8 anos tinha uma namoradinha chamada Calinca. Dessas que se pega na mão e beija no rosto. Um dia ela veio louca perguntar se eu tinha dito a minha mãe que estávamos namorando. Disse que não, veemente e olhando naqueles olhos que de tão pretos pareciam duas Luas novas. Mentira claro, na época eu achava que podia mentir pra todos, menos a minha mãe. (Que idiota) Nunca pensei que ela fosse descobrir, já que só eu e minha mãe sabíamos a verdade. Sobre verdade, calculei mal. Outra pessoa também sabia. Calinca descobriu que eu estava mentindo graças ao meu melhor amigo que também gostava dela e decidiu me denunciar. Funcionou pra ele. Um dia depois da revelação, ele estava com o mesmo namorico e pseudo namorada que era minha. Depois desse evento que descobri que mentir não era a melhor saída, aprendi um movimento muito mais interessante nos relacionamentos, o de “trocar de figurino”.

“Trocar de figurino” é inventar personagens. Descobrir o que quer a mulher e tentar ser aquela idealização o melhor possível. Sim, sim, eu tentei ser eu mesmo antes disso. Esta fase durou 10 anos, quando não passei se quer a mão em alguém. Então, depois que acordei do devaneio do “Be your self”, minha nova práxis dos figurinos encontrou um fortíssimo aliado, o mundo virtual. Lá era tão fácil brincar com os personagens. Bastava ser atencioso aos sites de relacionamento e rápido para promover mudanças de fotos e perfis. Eu arrasava, quebrava a banca, detonava a boca do balão. Nem encarava como um movimento ilícito e falsário, era parte do jogo. Satisfazia minhas sedentas e carentes amantes tecnológicas ao passo que também satisfazia meu fetiche. Era mesmo divertido e estimulante, mas não passava muito disso. Poucas vezes transcendia para o mundo real em encontros. Sempre temia que a mulher fosse uma louca pretendendo me jogar numa banheira e roubar um rim, ou pior, que fosse feia... Sem contar com a preguiça que sempre dava ter de tomar banho, passar desodorante, escovar os dentes, arranjar dinheiro, fazer pum pum e xixi pra não ter vontade no encontro, passar gel no cabelo, usar cueca limpa, levar a chave, não fumar, não beber... Não valia a pena.

Comecei a namorar, mas nunca quietei com o flerte virtual até um daqueles fatídicos dias que tanto me perseguem. Num movimento saudosista procurei e encontrei uma comunidade de pessoas maneiras-matreiras-cabreiras do meu passado. Lá estava Calinca. Mais velha, voluptuosa, morena, os mesmos olhos de Lua nova, sorrindo...

Maldita seja, nunca mais pude deixar de ser quem sou.


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quinta-feira, janeiro 7

Anca de Branca

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Janice nunca me amou, mas desejou por quase uma noite inteira.
Era um dia de carnaval e todas as contentes pessoas saltitavam fantasiadas.
Um ano atrás, Janice me olhou e sabia que eu seria seu aquela noite.
Se te interessas saber se eu havia reparado ou sentido o desejo de Janice,
te respondo que não. Sempre fui afeito aos que não reparam. De uma espécie, Bococius Altus.
Vivia eu uma triste rotina de não notar que era notado, além de tentar a todo custo driblar uma inconveniente fobia de multidão. Pouco diz também “Multidão”. Aquilo era uma batalha Alexandrina. Corpos e cabeças e pernas por demais. Todos fantasiados a pescar um olhar de atenção, uma mísera lasca de presença. A noite parecia dançar junto com aqueles mascarados e as luzes dos enormes carros de som. Boa noite para pescaria sim. Estávamos todos certos.
Pulava, então, vestido de palhaço, enquanto que Janice era a própria maravilha.
Beijou um, dois, outro terceiro que nem mesmo homem era. Depois desse, variou e beijou uma mulher e cinco, seis, muitos.

Eu?

Ainda com medo. Dor de cabeça, peito apertado, muito medo...
Covarde que sou procurei alguma boa lembrança para me apregoar, mas não encontrei.
O som era muito alto, a felicidade das pessoas dilacerante. Minha agonia atrapalhava a pescaria de todos, por pouco não viraram para mim, as milhares de pessoas, me mandando ser feliz para não lhes estragar a festa. Dei sorte. Um elemento tão mágico quanto inusitado me acalentou. A bunda de Janice. Concordo que geralmente bundas não acalentam, provocam sussurros, libidinagens diversas, mas acalmar parecia que só comigo e naquela situação mesmo. Ao notar que eu não a notava, Janice começou a ficar tão agoniada quanto eu. Num sobre salto, jogou-se na minha frente e começou a rebolar suavemente. Era muita gente, eu poderia ignorar se pudesse, mas a bunda de Janice...

Ela era linda, cabelos cacheados, boca pequena, olhos amarelos, mas nada era tão importante para mim naquele momento como a bunda. Janice era tão pequena e branca, como podia ter uma bunda tão grande, de onde vinha aquela anca de mulata assanhada? Quanto mais ela se apertava contra mim, mais eu a sentia e mais tranqüilo ficava. Dei graças a Deus. Quase chorei de emoção. Todas as minhas incipientes preocupações tornaram-se em pó perto do mistério que era desvelar aquela bunda.

Seguimos mais alguns metros. Eu a inventar qualquer desculpa para manter aquela bunda na minha frente. Mas num desses momentos que não deveriam existir, uma falha de cálculo dos projetistas celestiais, a multidão se dissipou e não era mais proeminente que nossos corpos ficassem tão próximos. Senti um arrepio subir e descer a espinha por pelo menos cinco vezes. Janice então virou e me deu um beijo. Desses cheios de furor, capazes de te levar a uma celebração ecumênica de troca de votos no dia seguinte. Aquele beijo foi minha ruína...

Nunca mais senti a bunda de Janice


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quarta-feira, janeiro 6

Mulher Gigante

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Um tanto de gente das formas mais diversas.
Algumas de cabelo a escorrer, outras com camisa a marcar um forte corpo.
O engraçado era que poucas estavam a sorrir.
Engraçado por que ali era um lugar definitivamente para sorrisos.
Uma noite de benção, com as musicas de cartolas e cartolas e sandálias.
Passava eu por ombros a dar de ombros até ter vontade de ficar onde parecia ser o centro.
Numa multidão é fácil medir o centro. Lá é onde tudo converge. Para onde caminham as desinibidas cinturas, as lisas mãos em bolsos, toda força de atração possível.

Uma dessas forças era um branco sorriso. Ela era alta e tinha a cabeça enorme. Estacionada na minha frente ficava impossível de ver o palco. Deixei então de olhar para o palco e passei a prestar atenção em sua esquisita figura tentando se movimentar em sincronia com aquele som. Agora percebo que aquele fora o primeiro jogo entre nós e ela vencia. Como quem não quer nada, mas tudo quer, passei a mão em sua cintura. Ela virou. Muito mais lenta do que eu imaginei ou estou acostumado. Como se não tivesse medo ou receio. Como se quisesse aproveitar cada segundo desta virada. Fazendo esforço para seu corpo enorme e a primeira vista desengonçado, completar um giro apoiado em brancas pernas de carvalho. Claro que tive de olhar para cima para encará-la nos olhos.

Reservo-me um mínimo tempo para apreciar a beleza desta lembrança...

Seus olhos eram como todo o resto nela. Sem definição alguma. Um tom de verde remetendo a um mar sujo e revolto. Que levanta tanta areia, que essa areia se achava no direito de dizer que cor o mar deveria ter. Mas não quero me ater aos olhos. O sorriso. Para além de qualquer Monalisa ou Botticelli ou vanguarda pervertida ao insuficiente. O Sorriso de Gretha...

Reservo-me a outro direito inventado. O de não adjetivar mais, pelo não sentido que isso faz a cada palavra proferida. Como se a cada parca exemplificação minha, sua boca fosse menos aberta ou sua face menos tenra.

Desta vez eram os braços ou tentáculos, ainda não estou muito certo, que rondavam minha cintura. E então bailávamos. E então eu acariciava sua outra mão em meu ombro e demorava minutos incontáveis por percorrer aqueles dedos. Em pouco tempo, o ritmo dela foi cedendo. Aqueles quadris piramidais iam ganhando contornos arredondados. Eu a disciplinava com a cadência do meu samba, como se transmutasse uma colegial formal numa Waldorf.

Gretha não parava de gostar daquilo. Por vezes tentei afastá-la do meu corpo para que se sentisse livre e fosse procurar outros mais fortes, ou mais altos, ou mais sábios, ou que melhor falassem sua língua. Mas Gretha não se ia. Aproveitava que eu a distanciava e rodopiava por baixo do meu braço. Eu tinha de fazer um esforço descomunal para não perder meu tão estimado braço para o passo de dança daquela mulher gigante. E assim giramos e giramos até que a canção fosse perdendo força. Antes do fim, Gretha me fez uma confidência muda. Levantou vagarosamente sua avantajada cabeça abrindo lentamente os olhos de mar revolto.

Concentrava-se nos meus rápidos pés. Oxalá que tenha sonhado! Mais um de seus mistérios sem resposta. Ainda sorrindo, provavelmente com câimbras nas bochechas, ela aplaudiu a banda e me abraçou despedindo-se.

Gretha, além de enorme, tinha 22 anos, visitava a Bahia pela primeira vez, era Sueca mas morava na Noruega e era garçonete. Sumiu do mesmo jeito que apareceu. No meio dos ombros dos desconhecidos. Foi sem me dar sequer um beijo...



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Retada

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Sempre quis um homem para ser seu.
Desde pequena, passava os dias a escrever em diários como seria quando tivesse um homem só seu. Pediu de Natal, de Páscoa... Depois percebeu que os feriados religiosos jamais se prestariam a um pedido da carne. Passou a desejar no carnaval, nas folias de bairro...
Não funcionou também. Estava ficando velha. Passou a cuidar do corpo, atenção a cada detalhe. Só não cuidava de sua cabeça.

Perdão, está clara o suficiente a expressão “cabeça” .

Cabeça literal, inteira mesmo. Não usava brincos, não passava batom, não penteava os cabelos. Era desejada, mas nunca beijada. Sua cabeça era descuidada por demais. Lia de Diários de Magos até Mundos de Sofia. Cabeça desleixada. Cumpria as normas, não se alterava, mantinha os horários, sem críticas. Cabeça perdida, cabeça ruim, não era beijada.
Oh, pobre Dulcinéia.

Sempre disse para si mesma que por mais necessitada que fosse, que por mais que sentisse aquelas cócegas engraçadas na virilha, seria forte. Não aceitaria nenhum Don Quixote. Não queria saber de homens franzinos ou sonhadores. Malucos é bem verdade, malucos.
Foi assim que a conheci. Abrira uma exceção nos seus devaneios. Fui o único homem a beijá-la.
Não me importava com sua cabeça desajustada, já tinha visto piores. Até gostava do cheiro esquisito dos seus cabelos. Mas jamais daria certo, sou um Quixote torto-tolo-fraco, assumo. Logo Dulcinéia percebeu e me chutou sem me deixar experimentar de suas carnes. Melhor assim, melhor assim...

Os anos passavam e Dulcinéia a oferecer seu belo corpo aos de bom coração. Que fique claro que nunca era recusado. Sempre satisfazia os homens que escolhia. Todos esperavam, contudo, que um dia ela cuidasse daquela cabeça. Sonhavam com o dia em que poderiam se livrar de suas máscaras e armaduras para escrever poemas. Os homens de Dulcinéia ansiavam celar e cavalgar num cavalo branco, carregando-a por continentes ainda não descobertos. Todos errados.

Dulcinéia vivia apavorada com essa possibilidade. Não queria ser levada para lugar nenhum. Gostava da sua vida, não era oca de forma alguma. Era um tutano diferente, cheio de vicissitudes. Era dela. Demorou a conquistar aquilo. Ninguém esperava também que aquela menina de escola pública fosse tão longe. Dulcinéia foi. Fez o inesperado. E tudo isso sem precisar da cabeça. O máximo que fazia com ela era prestar reverência. Ria do conceito de arrogância. Pegava Freud pelas ancas e rebolava.

Dulcinéia parava no espelho e se pensava uma mulher retada,
sem nem sequer saber quem era Jorge Amado. Não tinha contradição que a derrubasse.
Seu nada com nada era como manga com sal.

Assim foi até completar os 50. Quando morreu.



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A Amante

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Sua sanidade nunca foi posta a prova.

Repousa em sua tez e colo de Vênus, uma sobriedade digna das senhoritas mais puritanas.
De tanta desfaçatez decidiu-se por ser atriz.
Pena o material com que trabalhe os atores seja a verdade e não a dissimulação.
Lá se fora seu estratagema. Decidiu então ser amante. Logrou êxito.
Verdade seja bem dita que o “caso” que escolheu era curioso.
Um jovem varão de lar conturbado, ávido por uma família, por algum consolo na vida.
E como todo autômato de ser moral/cristão, interessado num flerte com o demônio.
Nossa não atriz aproveitou-se também por ele ser artista. Desses estereótipos mesmo.
Dos que bebe até amanhecer o dia, fuma maconha na própria casa, compõe, enebria...
Nem importava se não era lá muito bonito, mais um fetiche.
Decidiu que seria seu aquele Quasimodo.

Mônica sempre foi muito esperta!

Foram meses com aquele Feio-Varão-Artista. Sem que sua mulher soubesse.
Mônica fingia ajustar o tempo aos anseios dele. Nas escadas, na cozinha, na sala com os pais, nos quartos, sob céu estrelado, sobre asfalto quente. Ela ameaçou por várias vezes ir até sua mulher, fazer um escândalo. Contou para os amigos em comum fazendo assim a suposta traição dele, voar no vento para todos os cantos transformando-se em correntes, prendendo-o, alicerçando uma relação que já podia ser descrita como um raro Dali.

Mônica sempre foi muito esperta!

Tantas intempéries decantaram no mais improvável dos desfechos. Nada aconteceu. Misteriosamente, a mulher dona do Homem Feio, nunca soube de Mônica e sua relação com seu consorte. O rompante acabou. Mônica não mais procurou o Feio Varão. Há quem diga que o homem se arrependera e fugiu para sua segura Pasárgada protegida de solavancos. Há quem diga que Mônica cansou de viver sendo tida como meretriz, amarrada pelo rótulo de “outra”.
Quem sabe?

Hoje Mônica é uma senhora respeitável. Segue os ensinamentos da mãe de seu cônjuge. O tem em rédeas que apertam e moldam da forma como ela bem quer. Num olhar rápido, talvez fique claro que sempre desejou isso, a estabilidade. Numa análise com mais perfídia, talvez transpareça que ela aperta este novo homem até que exploda e escorra por seus dedos sua integridade e virilidade...
Quem sabe?

Mônica sempre foi muito esperta!



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